Powered By Blogger

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Código Florestal



"Perfeição

Vamos celebrar a estupidez humana

A estupidez de todas as nações

O meu país e sua corja de assassinos

Covardes, estupradores e ladrões

Vamos celebrar a estupidez do povo

Nossa polícia e televisão

Vamos celebrar nosso governo

E nosso Estado, que não é nação

Celebrar a juventude sem escola

As crianças mortas

Celebrar nossa desunião..."

Foram assassinados os extrativistas Claudio Ribeiro da Silva, e a esposa, Maria do Espírito Santo da Silva, no sul do Pará, militantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, no sul do Pará.

Esse novo Código, que anistia os crimes dos grandes, sob o pretexto de apoiar a nossa agricultura familiar e desmonta toda a política ambiental brasileira ao mudar conceitos e retirar atribuições importantes dos órgãos que atualmente as possuem no Brasil, vai anistiar também os assassinos destes dois. Anistiar o tráfico de madeira. Anistiar os nosso grileiros e coronéis. Não sabemos ainda quem puxou o gatilho, mas sabemos quem mandou. E infelizmente sabemos também que dificilmente se fará justiça. Como com Chico Mendes. Como nos massacres de Corumbiara, de Eldorado de Carajás. Como os fiscais do Ministério do Trabalho assassinados em Unaí, por combaterem o trabalho escravo. Como tantos outros que perderam a vida por se oporem a nossa elite agrária. Na remota hipótese de serem presos, ainda é possível que haja um Gilmar Mendes da vida para lhe dar *Habeas Corpus* urgente. Para reclamar do desrespeito a dignidade humana de alguém ser algemado.

Não me entendam mal. Sou filha de pequenos agricultores. Trabalho com assistência técnica. O Código Florestal precisa sim ser mudado, atualizado, e há questões reais a serem enfretadas. Mas não da forma como foi. Na discussão do mesmo ontem, nossos digníssimos parlamentares votando em causa própria, ou na melhor das hipóteses, em estado de pura ignorância, vaiaram o anúncio da morte dos dois. Esses são os nossos representantes. Estarrecedor.

Enquanto isso, eu trabalho. Numa das piores carreira do Executivo Federal, com uma taxa de evasão próxima de 10% ao ano. De tão bem remunerada e gratificante que é. Meu salário de Analista Ambiental não me permite viver com dignidade em Brasília, e criar meus dois filhos. Se eu descobrir a mágica de viver sem dinheiro aqui, e se os imóveis não continuarem subindo, se eu juntar tudo o que eu ganhar daqui até a minha aposentadoria, eu posso comprar um imóvel aqui. Eu vejo a política brasileira de Redução de Emissões sendo publicada apenas em inglês, pro Brasil fazer bonito em Copenhagem. Eu vou representar nosso Estado em locais onde as pessoas não têm certidão de nascimento, e explicar as políticas públicas pra gente que trabalha o mês todo por cento  e vinte reais. Eu reponho as minhas horas de greve infrutífera em busca de um salário decente, mesmo tendo trabalhado horas extras (não recebidas e não contabilizadas) mais do que suficiente para compensar o tempo parada. Eu já recebi ameças de morte. E estou falando apenas de mim. Eu trabalho em Brasília. Bem longe das áreas de fronteira agrícola onde muitos de meus colegas vivem.

Precisava desabafar. E precisava perguntar se essa indignação é só minha. Precisava saber se os brasileiros estão cientes de que a certeza da impunidade fizeram os desmatamentos ilegais aumentarem este ano. Se nós sabemos que o Pará tem 5 vezes o seu território registrado em seus cartórios. Se sabemos que esses desmatamentos financiam o comércio ilegal de madeira (que dá bastante dinheiro, perdendo apenas para o tráfico de drogas, armas e animais). Se sabemos que a alta dos alimentos não tem nada a ver com falta de alimentos no Brasil, mas com o fato de sermos exportadores de comida. Se sabemos que somos o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, consumindo produtos banidos até mesmo na China, e enquanto esse envenamento fica aqui, em nossas águas e nossa gente, ficamos felizes porque a balança comercial está favorável. Ou pior ainda, nós sabemos, mas nos importamos com isso?

Que tipo de Estado nós queremos, se premiamos a impunidade e violentamos duas vezes as vítimas, primeiro pela violência, depois pela impunidade, e aqueles que andam dentro da lei? 





Por Mudwoman
www.antigoscaminhos.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário