"Perfeição
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião..."
Foram
assassinados os extrativistas Claudio Ribeiro da Silva, e a esposa,
Maria do Espírito Santo da Silva, no sul do Pará, militantes do Conselho
Nacional das Populações Extrativistas, no sul do Pará.
Esse novo Código, que anistia os
crimes dos grandes, sob o pretexto de apoiar a nossa agricultura
familiar e desmonta toda a política ambiental brasileira ao mudar
conceitos e retirar atribuições importantes dos órgãos que atualmente as
possuem no Brasil, vai anistiar também os assassinos destes dois.
Anistiar o tráfico de madeira. Anistiar os nosso grileiros e coronéis.
Não sabemos ainda quem puxou o gatilho, mas sabemos quem mandou.
E infelizmente sabemos também que dificilmente se fará justiça. Como com
Chico Mendes. Como nos massacres de Corumbiara, de Eldorado de Carajás.
Como os fiscais do Ministério do Trabalho assassinados em Unaí, por
combaterem o trabalho escravo. Como tantos outros que perderam a vida
por se oporem a nossa elite agrária. Na remota hipótese de serem presos,
ainda é possível que haja um Gilmar Mendes da vida para lhe dar *Habeas
Corpus* urgente. Para reclamar do desrespeito a dignidade humana de
alguém ser algemado.
Não me entendam mal. Sou filha de
pequenos agricultores. Trabalho com assistência técnica. O Código
Florestal precisa sim ser mudado, atualizado, e há questões reais a
serem enfretadas. Mas não da forma como foi. Na discussão do mesmo
ontem, nossos digníssimos parlamentares votando em causa própria, ou na
melhor das hipóteses, em estado de pura ignorância, vaiaram o anúncio da
morte dos dois. Esses são os nossos representantes. Estarrecedor.
Enquanto isso, eu trabalho. Numa das
piores carreira do Executivo Federal, com uma taxa de evasão próxima de
10% ao ano. De tão bem remunerada e gratificante que é. Meu salário de
Analista Ambiental não me permite viver com dignidade em Brasília, e
criar meus dois filhos. Se eu descobrir a mágica de viver sem dinheiro
aqui, e se os imóveis não continuarem subindo, se eu juntar tudo o que
eu ganhar daqui até a minha aposentadoria, eu posso comprar um imóvel
aqui. Eu vejo a política brasileira de Redução de Emissões sendo
publicada apenas em inglês, pro Brasil fazer bonito em Copenhagem.
Eu vou representar nosso Estado em locais onde as pessoas não têm
certidão de nascimento, e explicar as políticas públicas pra gente que
trabalha o mês todo por cento e vinte reais. Eu reponho as minhas horas
de greve infrutífera em busca de um salário decente, mesmo tendo
trabalhado horas extras (não recebidas e não contabilizadas) mais do que
suficiente para compensar o tempo parada. Eu já recebi ameças de morte.
E estou falando apenas de mim. Eu trabalho em Brasília. Bem longe das
áreas de fronteira agrícola onde muitos de meus colegas vivem.
Precisava desabafar. E precisava
perguntar se essa indignação é só minha. Precisava saber se os
brasileiros estão cientes de que a certeza da impunidade fizeram os
desmatamentos ilegais aumentarem este ano. Se nós sabemos que o Pará tem
5 vezes o seu território registrado em seus cartórios. Se sabemos que
esses desmatamentos financiam o comércio ilegal de madeira (que dá
bastante dinheiro, perdendo apenas para o tráfico de drogas, armas e
animais). Se sabemos que a alta dos alimentos não tem nada a ver
com falta de alimentos no Brasil, mas com o fato de sermos exportadores
de comida. Se sabemos que somos o maior consumidor de agrotóxicos do
mundo, consumindo produtos banidos até mesmo na China, e enquanto esse
envenamento fica aqui, em nossas águas e nossa gente, ficamos felizes
porque a balança comercial está favorável. Ou pior ainda, nós sabemos,
mas nos importamos com isso?
Que tipo de Estado nós queremos, se
premiamos a impunidade e violentamos duas vezes as vítimas, primeiro
pela violência, depois pela impunidade, e aqueles que andam dentro da
lei?
Por Mudwoman
www.antigoscaminhos.com.br
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